segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A Evolução das Relações Amorosas e a Maturidade


Extraído de Esfinge - Estrutura e Símbolo do Homem - por Pierre Weil

Talvez seja Abraham Maslow quem mais estudou a evolução das relações amorosas, através da psicoterapia, ou por inquéritos feitos em clientes e estudantes universitários. Já é bastante a distinção que faz entre: o “need love” ou amor baseado e  necessidades (valores D), e o “being love” ou amor ao ser (valores B). A evolução do homem em direção à maturidade no amor se faria em direção ao B love que corresponde ao mesmo tempo aos valores superiores que ele chama também de “metamotivos” como: beleza, verdade, bondade, integralidade, liberdade etc. Lembramos que o B love é vivido sobretudo no que ele chama de “Peak-Experience” ou “experiências privilegiadas” de cume, “experiências culminantes”, que se situariam na metade do caminho da experiência mística. Esta experiência do “encontro existencial” tem, como já vimos, um valor psicoterápico enorme. As pessoas que passam por esta experiência afirmam, em inquéritos feitos, sentirem-se mais “maduras”, preferindo este tipo de relacionamento amoroso ao “need love”. Seguin também fala do valor terapêutico do “encontro” com o cliente, que ele descreve como “una espécie de revelación capaz de cambiar la vida de una manera definitiva”. Para Buber, o amor verdadeiro e “maduro” é um amor “cósmico”, em que se pode ajudar, curar, educar, elevar, liberar. Voltando ainda a Maslow, os seus estudos o levaram a dar “critérios” bastante objetivos e “operacionais” para reconhecer e diagnosticar o estágio evolutivo do amor necessidade e do amor ao ser.
Foi Jung que propôs um conceito “energético” no que se refere ao amor. Podemos gastar energias em atividade sexual, em trabalho profissional, em meditações filosóficas ou em úlceras duodenais.
Se acrescentarmos a este conceito a ideia da subida evolutiva, podemos propor as seguintes hipóteses, para submetê-las à discussão ou como pontos de partida para maiores pesquisas.





1. Na evolução das relações amorosas há um processo direcional ascensional.
2. Pode ela ser representada por uma aspiral (ver fig. 56).
3. Nesta aspiral há estágios cujo ponto terminal é discutido, pois abrange aspectos eventualmente parapsicológicos ou místicos, ou cósmicos conforme as crenças ou posições filosóficas. É mais prudente, por conseguinte, falar de maturação e não de “maturidade”.
4. Aceitando a hipótese da evolução de uma fase instintiva até uma fase em que são integrados valores espirituais, poderíamos propor o seguinte modelo teórico:





5. No amor, a energia pode ser concentrada em atividades instintivas, emotivas, espirituais ou distribuída equitativamente entre duas ou três destas funções.
6. A evolução tende a levar o homem a concentrar a sua energia na direção de maior amor espiritual?
7. A relação amorosa entre dois parceiros pode evoluir para maior espiritualidade que inclui o encontro profundo existencial. Seria interessante analisar o que é este encontro; qual a parte de transferência e projeção e qual a parte de atração energética direta. A experiência da “ioga sexual” em que os parceiros ficam na posição de loto, em união ciotal mas sem praticar a fricção coital, esperando a energia “subir” nas esferas superiores do sistema nervoso, se prestaria a muitas análises e estudos sobre este assunto de maturidade no amor.
8. A relação amorosa entre os níveis evolutivos de dois parceiros tem várias alternativas teóricas de conjugação, baseadas em modelo sociométrico.

Como já o vimos, existem esfinges agrupadas aos pares, em geral uma na frente da outra. Podemos imaginar que os seus autores quiseram mostrar que as relações humanas são, na realidade, relações interestruturais.  A título de hipótese inverificável, vamos tentar reconstituir o que talvez tenha sido a intenção dos seus autores. Se colocarmos as duas estruturas da esfinge uma em frente a outra, e procurarmos as relações teóricas possíveis entre elas, teremos, teoricamente, dezenove relações possíveis, tal como o mostra o esquema seguinte.


Este modelo tem aplicações bastante interessantes no que se refere às relações amorosas. Podemos ter relações recíprocas positivas no plano do instinto, no plano do sentimento ou no plano do intelecto. Existe efetivamente um tipo de relação no nível 1 (boi), em que predomina o aspecto instintivo e sexual. Outro tipo de relações se dá no plano emocional. É o “amor ternura” sentimental, ou a paixão (nível dois, leão). Também existem casais, nós o sabemos, cujo encontro predileto se faz no nível da mente, no nível dos valores intelectuais e espirituais (nível 3, águia). Existem casais que tem encontros amorosos apenas num destes planos, e outros que harmonizam num plano ou no outro conforme a situação, o momento e as pressões em jogo. Há também os que têm experiências do encontro nos três planos ao mesmo tempo, ou pelo menos em dois deles: espiritual e emocional ou emocional e sexual ou ainda sexual e intelectual. Os desencontros amorosos, as desarmonias, parecem ter também a sua explicação neste modelo. Um dos parceiros encontrando-se num dos planos e o outro no outro plano, surge o desencontro. Isto é muito frequente. Por exemplo, o homem quer apenas uma descarga sexual no nível do boi, e a mulher quer dar e receber ternura ou ainda se encontrar num plano espiritual. Tais desencontros podem ser:
- ocasionais, dependendo do estado momentâneo em níveis diferentes: a mulher quer ir para a cama, por exemplo, e o homem quer dar um passeio ao luar (mulher no nível 1 e homem no nível 2);
- constantes: neste caso se trata de duas pessoas que se encontram em níveis de maturação diferentes. 

O desnível pode-se dar, teoricamente, do seguinte modo:
1. A mulher no nível 1 e o homem no nível 2
2. A mulher no nível 1 e o homem no nível 3
3. A mulher no nível 2 e o homem no nível 1
4. A mulher no nível 2 e o homem no nível 3
5. A mulher no nível 3 e o homem no nível 1
6. A mulher no nível 3 e o homem no nível 2

Também podemos aventar a hipótese teórica de encontros parcialmente desarmônicos:
1. A mulher no plano 1 e 2 e o homem no plano 2 e 3
2. A mulher no plano 2 e 3 e o homem no plano 1 e 2
3. A mulher no plano 1 e 2 e o homem no plano 1 e 3
4. A mulher no plano 2 e 3 e o homem no plano 1 e 3
5. A mulher no plano 1 e 3 e o homem no plano 2 e 3
6. A mulher no plano 1 e 3 e o homem no plano 1 e 2

Interessante seria um estudo experimental destas tipologias de relações amorosas, com instrumentos de medida bastante acurados. Podemos citar a este respeito, por analogia, uma tentativa neste sentido, com a tipologia ternária de Le Senne, por André Le Gall. Se juntarmos os três níveis de encontro sincrônico por um ponto, estaremos chegando a um resultado bastante curioso:
Mudamos apenas os números:

3, 5, 7: mulher (águia, leão, boi)
2, 4, 8: homem (águia, leão, boi)
1: plano mental
6: plano sentimental
9: plano sexual
10: nova unidade resultante da união sexual - o filho.
Acrescentando ao encontro das duas esfinges, nos seus diferentes planos, três centros de atração (1, 6, 9), intermediários entre o masculino e o feminino, reconstituímos, nada mais nada menos, do que a árvore sefirótica! O número 10 corresponde ao produto da união sexual. Uma nova criação: o filho.