David L. Hart
Há um princípio aqui ao
qual sempre aderi e que poderia ser chamado de respeito pela importância do
inesperado. É o princípio segundo o qual a vida em si possui significado que
precisa ser considerado e a mente racional pode facilmente tentar controlar,
passando a ditar significado e, em consequência, perdendo-o. Jung falava desse
princípio em uma de nossas reuniões estudantis na sua casa quando um aluno
mencionou um determinado estado psicológico, então perguntou: “Professor Jung,
qual é a probabilidade estatística de esse estado ocorrer?” A resposta de Jung
foi: “Bem, você sabe, assim que se começa a falar de estatística, joga-se a
psicologia pela janela”.
O inesperado é aquilo
que ganha uma chance de emergir no trabalho analítico quando um cliente vai à
sessão sem nenhum “programa” e diz: “Não tenho absolutamente nada do que falar
hoje”. No atual ponto de minha carreira, consigo alegrar-me em meu íntimo ao
ouvir tal frase, mas antes ficaria muito ansioso. Alegro-me porque tenho
certeza de que algo inesperadamente significativo tem, pelo menos, uma
oportunidade de surgir. E é isso que, de uma forma ou de outra, costuma
acontecer.
Assim, o processo de
individuação poderia ser definido como uma vida vivida conscientemente, o que
não é tão simples como parece. Não só as nossas mentes racionais, mas os
hábitos de pensamento e ação também contribuem para a inconsciência geral em
que a vida pode ser vivida. Para Jung, ser inconsciente talvez fosse o maior dos
males, e por inconsciente ele se referia a algo específico: ser inconsciente do
próprio inconsciente. É nele que a consciência precisa focar; do contrário,
ter-se-á vivido sem responsabilidade e mesmo sem significado, e Jung acreditava
que a vida sem sentido era a mais insuportável de todas.
Extraído de YOUNG-EISENDRATH, Polly; DAWSON, Terence. Compêndio
da Cambridge Sobre Jung. São Paulo: Madras, 2011.
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