sexta-feira, 24 de julho de 2015

A Importância Prática do Inesperado


David L. Hart

Há um princípio aqui ao qual sempre aderi e que poderia ser chamado de respeito pela importância do inesperado. É o princípio segundo o qual a vida em si possui significado que precisa ser considerado e a mente racional pode facilmente tentar controlar, passando a ditar significado e, em consequência, perdendo-o. Jung falava desse princípio em uma de nossas reuniões estudantis na sua casa quando um aluno mencionou um determinado estado psicológico, então perguntou: “Professor Jung, qual é a probabilidade estatística de esse estado ocorrer?” A resposta de Jung foi: “Bem, você sabe, assim que se começa a falar de estatística, joga-se a psicologia pela janela”.

O inesperado é aquilo que ganha uma chance de emergir no trabalho analítico quando um cliente vai à sessão sem nenhum “programa” e diz: “Não tenho absolutamente nada do que falar hoje”. No atual ponto de minha carreira, consigo alegrar-me em meu íntimo ao ouvir tal frase, mas antes ficaria muito ansioso. Alegro-me porque tenho certeza de que algo inesperadamente significativo tem, pelo menos, uma oportunidade de surgir. E é isso que, de uma forma ou de outra, costuma acontecer.

Assim, o processo de individuação poderia ser definido como uma vida vivida conscientemente, o que não é tão simples como parece. Não só as nossas mentes racionais, mas os hábitos de pensamento e ação também contribuem para a inconsciência geral em que a vida pode ser vivida. Para Jung,  ser inconsciente talvez fosse o maior dos males, e por inconsciente ele se referia a algo específico: ser inconsciente do próprio inconsciente. É nele que a consciência precisa focar; do contrário, ter-se-á vivido sem responsabilidade e mesmo sem significado, e Jung acreditava que a vida sem sentido era a mais insuportável de todas.


Extraído de YOUNG-EISENDRATH, Polly; DAWSON, Terence. Compêndio da Cambridge Sobre Jung. São Paulo: Madras, 2011.

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